terça-feira, 29 de abril de 2014

VENDEDORA DE SALGADOS DÁ EXEMPLO DE EMPREENDEDORISMO

Aos 54 anos, a “Tia do Salgado” conquistou uma clientela fiel na Universidade e planeja investir maiS
Quem frequenta o Setor II da Universidade Federal do Rio Grande do Norte sabe, seja a tarde ou a noite, é certeza de encontrar os corredores lotados de ambulantes. As opções de lanche são as mais variadas: salgados, sanduíches naturais, açaí, entre outros. Também é possível encontrar livros, revistas e filmes, novos ou usados.

A presença desses ambulantes nos setores da UFRN vêm sido tema de constante discussão. Insatisfeitos com os serviços da cantina setorial, hoje fechada, os alunos lutam pela permanência dos vendedores. Que mesmo com as repeensões da segurança, voltam aos seus lugares de trabalho.
Uma das primeiras a começar vendendo salgados foi Maria Áurea da Silva Dantas, 54. Dona Áurea começou há 4 anos. “Meu filho, Thales, estuda na UFRN e um dia comentou que não tinha ninguém vendendo salgados. Ele gosta muito dos meus salgados e sugeriu que eu fosse vender”, conta. “No primeiro dia levei 10 pastéis de forno, não cheguei a vender todos, mas aos poucos fui consquistando uma clientela fiel que compra meus salgados até hoje”.
Todos os dias, a partir das 18 horas os alunos já começam a se aglomerar entre os blocos G e H, onde D. Áurea sempre fica. “Em dias que eu atraso fica uma confusão, cada um que queira comprar seu salgado primeiro para poder ir para a aula”, diz. Além de apreciar os salgados, os alunos confiam na qualidade. Ela afirma que tudo é feito no mesmo dia, nada fica para o dia seguinte. “Se sobrar, dou aos alunos que estiverem por perto”.
Sob a alegação de que a Universidade é um órgão Federal e por isso não é permitida a presença de ambulantes, D. Áurea já precisou parar suas vendas algumas vezes. “Quando vemos que dá para voltar, voltamos na cara dura mesmo e os alunos adoram”, conta.
O que começou como uma tentativa, se tornou uma mudança de vida. Antes de vender os salgados, Dona Áurea ensinava em uma escola em Acari, RN, onde nasceu. “Eu tinha magistério, naquela época era possível ensinar com essa formação. Quando isso mudou, vim para Natal. Trabalhei em um posto de gasolina, onde conheci meu marido, e no supermercado Nordestão. Sempre fui trabalhadora”, relata.
Com as vendas dos primeiros meses, D. Áurea conseguiu arrecadar R$ 50. Apesar de muito tempo ela ainda lembra o valor, pois já contou a mesma história várias vezes. Com isso, conseguiu comprar uma máquina para amassar a massa de coxinha. “Isso me ajudou muito, ganhei tempo para fazer outras coisas”, diz.
Durante dois anos, Maria Áurea trabalhou sozinha, seu marido, Francisco Joailson de Lima, 45, ajuda apenas durante as vendas. “Os alunos sempre pedem para eu levar mais salgados, as vezes os que eles mais gostam acabam logo. Sempre lembro à eles que faço tudo sozinha. Faço o que dá”, desabafa.
Hoje, D. Áurea oferece uma variedade de opções. Pastel de forno, pastel frito, coxinha de frango e carne, empada, pizza, enroladinho e a novidade do cardápio: creme de galinha. O cardápio de bebidas também é variado. Café, chocolate quente, sucos, refrigerante e água. Tudo feito por ela.
Para aguentar a rotina, D. Áurea contratou duas ajudantes durante o preparo dos salgados e bebidas. “Pago um salário mínimo às duas. Elas me ajudam mais na limpeza. Todos os salgados são feitos mesmo por mim”, confessa. Seu filho mais velho, Thiago Dantas, 30, ajuda durante as vendas, quando pode. A cozinha também mudou. Maria Áurea adquiriu fogão industrial, geladeira, fritadeira a gás entre outros ultensílios.
Ozana da Silva, 24, e Aline Silvino, 25, ajudam D. Áurea diariamente. Ela procurou ajuda principalmente depois ter um infarte. “Está tudo bem, esse problema é de família mesmo, mas agora não posso mais trabalhar tanto. Fico muito ansiosa para terminar tudo logo, para dar tempo. Também procuro melhorar nisso”, diz.
Apesar das dificuldades e das vezes que já teve que parar de vender no Campus, Dona Áurea afirma gostar muito de trabalhar na Universidade. “Todos os alunos me tratam muito bem, nunca fui desrespeitada, nunca tive aborrecimento algum. Os alunos me chamam até de Tia. Tia do Salgado”, conta com um sorriso no rosto.
“O ideal seria alugar a cantina, mas o custo é muito alto e eu teria que aumentar os preços. Nem posso e nem faria isso, como estudantes eles não podem pagar caro. Sou mãe de universitário e sei como é. Já me pediram para baixar os preços, mas vendo pelo preço mais barato que posso. Só uso produtos de melhor qualidade”, confessa.
O sucesso da Tia do Salgado é tanto que alunos dos outros setores se deslocam ao Setor II para lanchar. “Desde que entrei na UFRN [2011] venho comprar salgados aqui. Quando sei que vou chegar tarde, ligo para ela reservar meu pastel de carne”, conta Raylanderson Medeiros, 24, estudante de Ciências Contábeis. “Já pedi para ela se mudar ou montar filial no Setor V, mas nada ainda”, brinca.
Desde que começou a vender salgados no Setor II, a concorrência aumentou bastante. “Quando comecei só tínhamos nós e um rapaz vendendo açaí. Hoje são muitos. Quando vejo tem mais um”, diz Dona Áurea. A concorrência não abalou as vendas. Ela afirma que vende ainda mais salgados e raramente não vende todos que leva.
Caso um dia precise parar de vender na Universidade, D. Áurea não pretende parar de trabalhar no ramo. Depois de todo o investimento e sucesso, ela pensa em abrir o próprio espaço no momento certo. “Gostaria de fazer outras coisas, além de salgados, quem sabe? Eu amo cozinhar, sou filha de cozinheira. Faço isso com muito amor”.


Fonte: Juliana Camara

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